Nos últimos anos, as mudanças climáticas passaram de um nível de preocupação para um nível de alerta vermelho, pois já colhemos alguns frutos provocados por estas mudanças. Os combustíveis fósseis foram tidos como os grandes vilões dessa história, o que fez com que a humanidade entrasse em uma corrida por tecnologias e fontes de energia mais eficientes. O Brasil, que desde o regime militar investiu pesado em estudos sobre biocombustíveis, saiu em defesa do seu precioso produto energético, prevendo colher boas receitas caso o mundo entendesse ser um fonte de energia sustentável. Me pergunto qual seria a maior preocupação à humanidade quanto as consequências que as mudanças climáticas poderiam trazer ao planeta? Imagino que a perda de biodiversidade seja a mais importante consequência apontada, pois essa seria a mais acelerada extinção em massa ocorrida na história do planeta. E para a manutenção da biodiversidade, os biocombustíveis seria uma solução positiva? Com certeza não. Participei de um congresso Internacional em São Paulo no ano de 2006 (Metrochem) em que o presidente de uma instituição governamental brasileira estava presente defendendo o programa nacional de biocombustíveis. Em um de seus slides, ele afirmou que não era necessário derrubar uma árvore de qualquer ecossistema florestal brasileiro, pois teríamos 90 milhões de hectares agricultáveis no Brasil. Me espantou em ver o mapa do cerrado brasileiro representando esses 90 milhões (caso sofra algum processo de calúnia, tenho testemunhas oculares). No momento eu fiquei estarrecido e gostaria de ter feito uma pergunta a ele caso me permitissem, pois o palestrante havia extrapolado o tempo. Queria saber se o Cerrado seria considerado um ecossistema menos importante que a Amazônia ou a Mata Atlântica e a partir de qual ponto de vista? Sumidouro de Carbono ou de Biodiversidade? Outra pergunta seria se teria sido considerado o potencial do Cerrado na formação de grandes rios do Brasil, como o Araguaia, São Francisco e Xingú, cujo tipo de solo facilita o estoque de água nos lençóis. Naquele dia, os biocombústiveis, em especial a produção de cana-de-açúcar voltada a este fim acabou ganhando um inimigo. Bom, como morador de Piracicaba, cidade ilha cercada de cana por todos os lados, falo sobre a cana com conhecimento de causa. Primeiramente, em minha cidade ocorre a queima da cana para facilitar o corte, justamente na época de estiagem. A cidade fica coberta por um nevoeiro que acaba sujando as ruas e agredindo a saúde da população. É só chegar a temporada de queima de cana-de-açúcar que os sintomas de dor no corpo e problemas respiratórios aparecem. Outro problema é que grande parte dos produtores que possuem corpos d'água dentro de suas propriedades acabam desmatando as suas matas ciliares. Como o cultivo de cana-de-açúcar exaure rapidamente os nutrientes do solo, é comum o uso de resíduos da agroindústria canavieira (vinhaça) na adubação, que são aplicados por veículos de dispersão sem muito controle quanto a lixiviação desses produtos para os rios e ribeirões. Em minha iniciação científica eu observei inúmeros casos de proliferação de algas em ribeirões nas proximidades de culturas canavieiras. O uso de biocombustíveis só teria uma viabilidade ambiental se fosse o produto de rejeitos humanos como a reutilização do gás metano a partir do tratamento de esgoto, o reuso de óleo de cozinha, fermentação do lixo. Uma vez li na Scientific American um estudo muito interessante, no qual um pesquisador de uma indústria misturava os produtos da queima da empresa à água em um tanque repleto de arqueobactérias de lagos vulcânicos que juntamente a luz trazida de fora da fábrica por meio de fibras óticas, conseguiam fixar todo o CO2 em biomassa. Então poderiam reutilizar essa biomassa para a produção de energia. Caso os biocombustíveis não forem produtos do próprio rejeito humano, considero até a energia nuclear mais satisfatória para a manutenção da biodiversidade. James Lovelock, ambientalista pai da teoria Gaia, hoje é considerado o Gandhi nuclear, e causa estranheza ao dizer que só as usinas nucleares podem nos livrar de um desastre (http://www.ecolo.org/lovelock/lovelock_gandhi_nuc-Braz_04.htm). Considero sua posição pertinente, desde que o destino do lixo atômico seja assegurado por várias gerações futuras. Cabe a moral humana procurar o melhor caminho para que o homem não se arrependa de suas ações no futuro.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
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